Carregando...
 
   
Educação, Dever de Todos
Estimulando a curiosidade
ESTIMULANDO A CURIOSIDADE
(Stephen Kanitz)
 
Durante a estada de Richard Feynman no Brasil - um dos poucos ganhadores do Prêmio Nobel que o Brasil pôde conhecer de perto -, os alunos pediram a ele que desse uma aula sobre nossos métodos de ensino na área da física. Feynman pegou cinco ou seis livros de física adotados pelo MEC naquela época e um mês depois disse que só daria aquela aula no último dia de sua permanência no país. No dia fatídico, dezenas de professores de física se reuniram para ouvir sua palestra. Essa história é contada por ele no livro "Deve Ser Brincadeira, Sr. Feynman". 
 
Começou assim a palestra: "Triboluminescência, diz no livro de vocês, é a propriedade que certas substâncias possuem de emitir luz sob atrito". E mostrou como nossos livros apresentavam a matéria pronta, incentivavam a decoreba, eram essencialmente chatos e confusos. Isso foi escrito há trinta anos, mas, pelas queixas dos alunos, nossos livros de física não melhoraram tanto quanto deveriam. Segundo Feynman, um livro americano abordaria a questão de forma um pouco diferente. "Pegue um torrão de açúcar e coloque-o no congelador. Acorde às 3 da manhã, vá até a cozinha e abra o congelador. Amasse o torrão de açúcar com um alicate e você verá um clarão azul. Isso se chama triboluminescência." Não sei se ficou clara a diferença que Feynman tentava demonstrar, nem sei se os livros didáticos americanos continuam os mesmos, mas basicamente nossos métodos de ensino apresentam muita informação e teoria em vez de despertar a curiosidade. Criamos alunos tão bem informados que no Brasil que inteligência virou sinônimo de erudição. "Inteligente" é quem sabe muito, quem repete as teorias e conclusões dos outros. Um dia ele poderá até ter opinião própria, mas será difícil se ninguém estimular sua curiosidade. Sem dúvida, toda sociedade precisa de pessoas eruditas, aquelas que sabem os caminhos que já foram percorridos. Erudição não mostra necessariamente inteligência, mas demonstra que a pessoa tem boa memória. No mundo moderno, em constante mutação, inteligência quer dizer outra coisa. Significa enxergar o que os outros (ainda) não vêem. Isso é próprio de pessoas criativas, pesquisadoras, curiosas, exploradoras, que encontram soluções para os novos problemas que temos de enfrentar. O método de ensino eficaz, segundo Feynman, deveriaformar indivíduos curiosos. O objetivo final de uma aula teria de ser formar futuros pesquisadores, e não decoradores da matéria. O que mais o espantou é que nosso ensino de física e química é muito superior ao americano. Mesmo assim, notou Feynman, o Brasil produz menos físicos e químicos que os Estados Unidos. A hipótese que ele levanta é o método de ensino.
Copyright © 2007 Todos os Direitos Reservados Colégio Ibero-Americano | Av. Manoel José de Arruda, 1001 Porto Cuiabá - MT CEP: 78025-190 | Telefone: (65) 3322.0011